quinta-feira, 4 de março de 2010

Continente

Eu nunca parei pra pensar quem eu era de verdade. Enquanto a maioria das pessoas sabia quem era, o que esperava da vida, que veneno carregava dentro delas, eu só me preocupava em brincar. Pra mim, o mundo sempre foi um grande brinquedo, uma eterna sucessão de amarelinhas e pique-pegas. Mal sabia eu que ele estava prestes a dar o maior golpe que eu podia imaginar.

Como dizer, a cegueira foi sumindo pela dor e as inúmeras quedas que eu fui tendo ao longo do caminho. Não podia mais pensar que a vida era só brincadeira. Tinha de me cobrar posturas e atitudes que eu nunca tive antes daquele momento. Um divisor de águas difícil e transformador. Tudo pro que eu estava despreparado. Um novo mundo, repleto de tentações e mazelas me esperava e eu estava sem armadura. Todos enxergavam nos meus olhos a imaturidade daquele que era jogado à força na vida.

O mundo frio estava à minha espera e eu sabia que iria errar tanto até que eu pudesse acertar.

O eco imortal redescoberto

A voz ultrapassa gerações. Ainda me arrepio com a sincronia das vozes desses caras. No começo é um que começa cantando. Depois chega outro e a impressão de que o eco é mais forte permanece. Quando os quatro se juntam, chega a ser assustador. Parece que o trajeto da Bahia até Minas se torna espetacular com os caras do Boca Livre cantando “Ponta de Areia”.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Tranco concertista: Maria Gadú

Aniversário do Rio, as ruas deveriam estar cheias de cariocas saudando a Cidade Maravilhosa. Mas o Rio, tão ensolarado, entrou numa frente fria e parece que estamos inverno. Muito frio e muita chuva. Confesso; eu já estava sentindo falta desse tempo assim. De ter preguiça de levantar e de querer não faze nada o dia todo. A promessa de mais um fim de semana apagado foi por água abaixo. Sexta de noite, fui ver Maria Gadú na Lona de Realengo(é,o subúrbio da Zona Oeste é bem mais do que o presídio de Bangu). Que impacto, ela ainda se mostrou tímida e perplexa com a grande presença do público e como este cantava todas as músicas - eu fui "às escuras" pra ver o naipe dela - mas não é que ela tem uma voz potente e maravilhosa? O que ela fez com "A história de Lily Braun" e "Ne me quitte pas" foi absurdo. Por que eu não tenho outra palavra pra descrever como eu (não) reagi diante dessa bomba que ainda vai explodir. O que eu vi na lona ainda é pouco. Acredito que em breve ela estará no auge.

P.S: "A história de Lily Braun" foi uma música composta pra peça "O Grande Circo Místico" e ficou famosa pela interpretação de Gal Costa. Agora, tem mais uma interpretação famosa. A diferença é que com a Gal, a música tinha uma pegada mais jazz e com Gadú, mais pop.

P.S. 2: "Ne me quitte pas" dispensa apresentações. Maysa destruiu(no bom sentido) pra abertura de "Presença de Anita. E Gadú deu uma levada mais leve.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

passagens sobre o contista do tranco: canto de boa sorte

"...e sempre que estava próximo de algum momento importante ou decisivo, eis que ele corria e colocava "Love Ain't No Stranger", do Whitesnake. A primeira vez foi no vestibular e depois disso acabou virando uma espécie de amuleto, canto de boa sorte..."

Do outro lado...

A dose que ele tinha ingerido tinha sido maior do que ele podia agüentar. Logo sentiu suas pernas cambaleando e seu corpo quase inerte, com dificuldade até pra mexer o dedinho. Oh yeah, que onda maluca essa! Quem tá de fora não sabe o que quem experimentou sente no momento. É mais forte que qualquer alucinógeno caseiro que se vende por aí, é daquelas vibes boas mesmo. “O bagulho é frenético, mermão. Tu não tá me entendendo”. O cara pirou de vez, entrou em alfa, só pode. Nunca vi isso. Nunca mais empresto meu disco “Dark Side of the Moon” pra ele! Ouvindo dez músicas, ele conseguiu ficar mais doidão do que...um consumidor de ervas alternativas.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A estratégia louca do Joel

Realmente, há coisas que só acontecem ao Botafogo. Há quase um mês atrás, ele levou aquela goleada impiedosa (com direito a torcedor queimando camisa em circuito nacional) e agora ele sai com o bicampeonato da Taça Guanabara. Obra do destino? Não. Dos “deuses do futebol”? Oxalá fosse. Dos jogadores? Também. Mas o grande responsável por essa virada foi o Joel Santana. Ele deu um gás no time, conseguiu pegar as limitações do time e transformar em garra dentro de campo. E boa parte dessa garra vem do ataque Mercosul (eu já to ficando louco com eles...). Até mesmo, os mais caçados pela torcida como Fahel e Alessandro foram incríveis em campo ontem. Achei que o único que destoou (um pouco) foi o Lúcio Flávio, ele deveria ir para reserva por algum tempo. Confesso que esperava mais do Carlos Alberto e do Dodô, eles conseguiram ser apagados. E falar o que sobre o Caio? Ele foi caçado com direito a uma falta feia que deu o primeiro cartão vermelho pro Vasco. O pênalti não marcado em cima do El Loco? Prefiro não comentar... Pra não estragar a alegria (mas ele foi bem compensado). E o Fábio Ferreira voando no segundo andar pra marcar o primeiro gol foi uma cena de cinema.

Mas alguém sabe qual o segredo do Joel, ou melhor, do esquema da sua prancheta? Meu amigo Bruno deu uma sugestão:

- Ferrolho na defesa, liberdade para os laterais (alas), cão de guarda, um meia técnico, um atacante que sai da área e se movimenta e um (centroavante)fixo fazendo pivô.


Faltou só a cachacinha do nosso comandante pra deixar o esquema no ponto. Só esperando o adversário no seu próprio campo (não o do adversário, pra não ter confusão semântica...). De resto, o Botafogo foi limitado, mas guerreiro. Do jeito que eu sonhava ver. Ainda não é o Botafogo gigante que povoa a memória dos mais saudosistas, mas foi o Botafogo que me fez sorrir como há muito não acontecia. Obrigado, Botafogo. Obrigado, Joel. Obrigado a cada um que esteve em campo e me fez sorrir de novo, mesmo que por um tempo. Obrigado por não me fazer desistir naquele jogo do Vasco e mesmo distante e sem transparecer (a tristeza e a vontade de ver o time vencer) continuar torcendo. Seria hipocrisia da minha parte dizer que eu esperava o título desde o início do jogo. Só depois de um tempo e pouquinho...

E ia esquecendo do principal: BICAMPEÃO!!!!!

O grande circo BBB

A décima edição do BBB está na boca do povo. Não imaginava, na época em que estreou, que o programa tivesse uma repercussão tão forte quanto essa. A ponto de parar a rotina dos telespectadores enquanto é exibido em rede nacional. Lembro de ouvir minha mãe reclamando comigo por que assistia todo dia e gostava. É, não me envergonho de dizer que já gostei do BBB e muito menos sei dizer o porquê de gostar. Na verdade, deixando as fofocas de lado, era interessante ver o quanto o ser humano se degrada por dinheiro e as baixarias que ele comete (sendo assistidas por milhões de pessoas). Hoje já abandonei a curiosidade nem um pouco ingênua– que por mais tentadora, não me seduz mais – e por isso eu o ache bem repulsivo agora. Não são apenas as intrigas e fofocas, mas sim se sujeitar a um espetáculo que não acrescenta em nada à nossa vida (e que, por outro lado, enche os olhos das pessoas e os bolsos dos patrocinadores e da emissora). À frente da apresentação, uma cara pseudo-culto (leia-se fofoqueiro de mão-cheia) que comanda esse universo paralelo que reproduz, distorce e cega a nossa realidade. Quem se prostitui, droga ou vicia não é menos baixo do que um participante do BBB que entra consciente de que vale tudo pelo prêmio. Num país em que a alienação virou atração de horário nobre, nada mais me surpreende. A lavagem cerebral é tão grande que a gente continua ligando pra ver quem sai no paredão de terça-feira.